Enfermeira de 54 anos, que atua na UTI do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, foi a primeira pessoa, fora dos estudos clínicos, a ser vacinada contra a Covid-19 no país. Ela foi imunizada neste domingo (17) no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP).
Por Lívia Machado, Paula Paiva Paulo e Rodrigo Rodrigues, G1 SP - São Paulo
Enfermeira de São Paulo é a primeira pessoa vacinada no Brasil |
O governo de São Paulo aplicou a primeira dose da CoronaVac
na tarde deste domingo (17), após a Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovar o uso emergencial da vacina contra
a Covid-19.
A enfermeira Mônica Calazans, de 54 anos, moradora de
Itaquera, na Zona Leste da capital paulista, foi a primeira pessoa, fora dos
estudos clínicos, a receber a vacina.
Mulher, negra, Mônica faz parte do grupo de risco para a
doença, e atua na linha de frente contra Covid-19 no Instituto de Infectologia
Emílio Ribas. Ela foi voluntária da terceira
fase dos testes clínicos da CoronaVac realizados no país e tinha
recebido placebo.
Após ser imunizada, ela recebeu do governador João Doria (PSDB) um selo simbólico com os dizeres “Estou vacinado pelo Butantan” e uma pulseira com a frase “Eu me vacinei”.
Primeira dose da CoronaVac é aplicada em SP - Foto: Rodrigo Rodrigues/G1 |
A aplicação foi feita no Hospital das Clínicas da Faculdade
de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) e acompanhada pelo governador
João Doria (PSDB).
A enfermeira Jéssica Pires de Camargo, de 30 anos,
funcionária do Controle de Doenças e Mestre de Saúde Coletiva pela Santa Casa
de São Paulo, foi responsável por aplicar a dose.
Vacinação
em SP
Logo após acompanhar a aplicação da primeira dose da
CoronaVac, o governador de São Paulo disse, em coletiva de imprensa no Hospital
das Clínicas, que a vacinação contra a Covid-19 no estado começa neste domingo
(17) em hospitais de referência e nas populações indígenas. Entretanto, o
governo paulista não detalhou quantas pessoas serão vacinadas.
Doria destacou que a partir desta segunda (18), "entra
em operação o plano logístico de distribuição de doses, seringas e agulhas”,
para a vacinação de profissionais de saúde em seis hospitais de referência: HCs
da Capital e de Ribeirão Preto (USP), HC da Campinas (Unicamp), HC de Botucatu
(Unesp), HC de Marília (Famema) e Hospital de Base de São José do Rio Preto
(Funfarme).
Em seguida, as vacinas e insumos serão enviados para as
prefeituras do estado, "com recomendação de prioridade a profissionais de
saúde que atuam no combate à pandemia".
O governador também afirmou que determinou o envio das
doses da CoronaVac ao Ministério da Saúde.
"Quero dizer que autorizamos há 35 minutos a imediata
distribuição da vacina do Butantan para todos os estados brasileiros através do
Ministério da Saúde. Após a aprovação pela Anvisa, determinamos que o Instituto
Butantan inicie imediatamente a distribuição da vacina ao Ministério da Saúde,
os caminhões com as primeiras doses serão carregados rapidamente e ainda hoje
serão encaminhados para o depósito do Ministério da Saúde, no Aeroporto de
Guarulhos", afirmou João Doria.
Ainda durante a coletiva, o diretor do Instituto Butantan,
Dimas Covas, disse que das 6 milhões de doses, 4.636.936 serão enviadas para o
governo federal. As outras 1.357.640 serão distribuídas pelo estado de SP.
Outros
vacinados
O segundo a ser vacinado foi o enfermeiro Wilson Paes de Pádua, de 57 anos, do hospital Vila Penteado, na Zona Norte. “Estou muito feliz, acho que nós temos que lutar pela vacina, lutar pela ciência, para melhorar a saúde e sair dessa pandemia. Me sinto muito orgulhoso e feliz desse momento”.
Enfermeiro Wilson Paes de Pádua, do Hospital Vila Penteado, é a segunda pessoa a ser vacinado no Brasil - Foto: Rodrigo Rodrigues/G1 |
Ele contou que perdeu colegas e foi infectado pela Covid-19
em junho, enquanto atuava na linha de frente da pandemia. “Pensei que ia
morrer, tinha momentos que rezei para Deus pensando que estava partindo”.
No evento, foi vacinada a primeira indígena do país. Vanusa
Kaimbé, de 50 anos, é técnica de enfermagem e assistente social, presidente do
conselho dos indígenas kaimbe do estado de São Paulo. Ela vive na "aldeia
Kaimbé filhos da terra", em Guarulhos.
“Eu vim aqui hoje representar a população indígena e falar a importância da vacina. A vacina salva vidas. Fui a primeira indígena a ser vacinada e recomendo para todos os meus parentes”.
Primeira indígena a ser vacinada no Brasil, com CoronaVac, na tarde deste domingo(17) - Foto: Rodrigo Rodrigues/G1 |
Aprovação
Na tarde deste domingo (17), a diretoria da Anvisa aprovou,
por unanimidade, a liberação do imunizante para uso emergencial, seguindo a
recomendação apresentada pela área técnica.
Os diretores acompanharam o voto de Meiruze Freitas,
relatora dos pedidos. No caso da Coronavac, a diretora condicionou a aprovação
à assinatura de termo de compromisso e publicação em "Diário
Oficial".
A decisão passa a valer a partir do momento em que houver a
comunicação oficial ao laboratório. Ela será publicada no portal da Anvisa, no
extrato de deliberações da Diretoria.
O pedido sobre a Coronavac foi apresentado em 8 de janeiro
pelo Instituto Butantan e é referente a 6 milhões de doses importadas,
produzidas pela farmacêutica chinesa Sinovac. O Butantan também desenvolve a
vacina no Brasil.
Durante a apresentação dos dados, o gerente de medicamentos
da Agência, Gustavo Mendes, fez críticas ao atraso no envido de dados do
Instituto Butantan.
Ele também considerou como pontos de incerteza o número de
idosos testados, a falta de informações sobre os intervalos entre a primeira e
a segunda dose de todos os pacientes testados.
Com a aprovação o Brasil, se tornará o quarto país a
iniciar o uso emergencial do fármaco, após China, Indonésia e Turquia.
Ministério da Saúde
Após a recomendação favorável da área técnica, o governador
João Doria disse, em postagem nas redes sociais, que o Instituto Butantan irá
entregar as vacinas ao Ministério da Saúde, responsável pela distribuição do
imunizante no país.
"Determinei que tão logo a Anvisa aprove o uso
emergencial da Vacina do Butantan, o Instituto Butantan entregue imediatamente
as vacinas ao Ministério da Saúde para que sejam distribuídas a SP, DF e todos
os estados brasileiros. O Brasil tem pressa para salvar vidas", diz a
publicação.
Nesta sexta (15), o Ministério da Saúde pediu ao Butantan a
entrega 'imediata' de 6 milhões de doses prontas da Coronavac, que estão em
poder do instituto e foram importadas do laboratório Sinovac, da China,
parceiro do Butantan na produção do imunizante.
Através de ofício, o ministério informou que o montante é
referente ao contrato de R$ 2,6 bilhões, firmado entre o órgão federal e o
laboratório paulista para a inclusão da Coronavac no Programa Nacional de
Imunização (PNI).
O Butantan já tinha prometido entregar as doses após a
Anvisa autorizar o uso emergencial da vacina, mas questionava o Ministério da
Saúde sobre quantas doses da CoronaVac serão destinadas ao estado de São Paulo
no PNI.
A gestão João Doria (PSDB) estima que o estado de São Paulo
tem direito a cerca de 1,5 milhão de doses – o cálculo é feito com base no
tamanho da população do estado.
Disputa política
A CoronaVac envolve uma disputa política entre o governador
de São Paulo, João Doria, e o presidente Jair Bolsonaro. Em outubro, o
presidente chegou a dizer que o governo federal não compraria a Coronavac.
No começo de janeiro, porém, o Ministério da Saúde informou
assinou um contrato com o Instituto Butantan para adquirir todas as 100 milhões
de doses que o órgão produzir.
A proposta anunciada pelo Ministério da Saúde a prefeitos era
começar a vacinação na quarta-feira (20) após a liberação do uso
emergencial pela Anvisa. O governo pretendia iniciar a vacinação com as duas
milhões de doses da vacina da AstraZeneca, produzidas na Índia.
Um avião brasileiro estava previsto para decolar na
sexta-feira (15) para a Índia, mas o voo foi adiado por “problemas logísticos
internacionais”. O adiamento ocorreu depois que o governo indiano dizer que não
poderia dar uma data para a exportação de vacinas produzidas no país.
Depois do adiamento do voo Ministério da Saúde pediu que o Instituto
Butantan entregasse todas as 6 milhões de doses da Coronavac disponíveis.
Eficácia da CoronaVac
Os testes da CoronaVac no Brasil foram feitos em 12.508
voluntários – todos profissionais de saúde da linha de frente do combate ao
coronavírus – e envolveram 16 centros de pesquisa.
A vacina registrou 50,38% de eficácia global nos testes
realizados no país, índice que aponta a capacidade do imunizante de proteger em
todos os casos – sejam eles leves, moderados ou graves.
O número mínimo recomendado pela OMS, e também pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), é de 50%.
Na
prática, a CoronaVac tem potencial de:
Reduzir pela metade (50,38%) os novos registros de
contaminação em uma população vacinada;
Reduzir a maioria (78%) dos casos leves que exigem algum
cuidado médico.
Além disso, nenhum dos vacinados ficou em estado grave, foi
internado ou morreu.
FONTE: G1
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